O gado de pelagem preta tem melhores condições de adaptação em áreas tropicais do que o vermelho. É o que aponta um estudo realizado pelos pesquisadores Roberto Gomes da Silva, Newton La Scala Júnior e Priscila Bersi Pocay, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Isso acontece porque o exemplar de pelame negro conta com mais melanina na epiderme, cuja função é a proteção contra os raios ultravioletas, mais fortes em regiões onde a incidência solar é maior e que provocam câncer. A pesquisa também revela que quanto mais finos e curtos forem os pêlos, melhor para a adaptação nas regiões tropicais.

Para realizar o estudo, amostras de couro de animais recém abatidos foram expostos a um simulador solar do laboratório de Bioclimatolgia Animal do campus de Jaboticabal/SP. A conclusão do trabalho é baseada no fato de que, nas raças européias, a epiderme costuma repetir a cor do pelame e por isso um animal negro seria o ideal para os trópicos.

   
Os pesquisadores do Clay Center (com sede em Nebraska, EUA) – o maior e mais importante centro de pesquisas bovinas do mundo – consideram a pele bovina escura uma vantagem nos trópicos porque os bovinos de peles claras são mais suscetíveis a lesões causadas pela radiação solar. Um exemplo claro disso, apresentado pelos pesquisadores de genética, é a alta probabilidade de animais de pouca pigmentação ou de pontos isolados sem pigmentação apresentarem problemas cutâneos nessas áreas de seu corpo. Eles consideram importante um trabalho realizado pelo Australian Journal of Experimental Agriculture, na revisão de 1994, e o Heat Stress in Cattle and the Effect of Shade (Estresse do Calor no Gado e o Efeito da Sombra), os quais afirmam, por exemplo, que o organismo bovino absorve até 3 vezes mais temperatura do que, efetivamente, produz com o seu metabolismo.
Keith Gregory
PhD em genética bovina

Em animais com muito pêlo, essa absorção de calor pode ser ainda maior, já que o pelame serve como uma espécie de "cortina térmica" que impede a dissipação do calor do corpo bovino ao meio externo na forma de suor. Em 1954, um pesquisador chamado Yates constatou que pêlos curtos e finos (não crespos ou aglomerados) estavam diretamente relacionados com a resistência ao calor, e que uma concentrada camada de pelame no corpo do gado representava uma ameaça à sobrevivência desses animais numa temperatura ambiente de 40o C ou superior. Em 1969, obras literárias técnicas de medicina veterinária, de países de língua inglesa, apontaram as diferenças em quantidade de pêlos por cm² como ainda mais importantes, pois quando os animais são expostos a condições de água limitada, aqueles com mais pêlos desidratam mais rapidamente do que aqueles com menos pêlos, paralelamente ao fato de apresentarem temperaturas retais mais elevadas.
Segundo o Dr. Keith Gregory, um dos mais respeitados geneticistas norte-americanos da atualidade e o "pai do gado composto", o qual foi desenvolvido no Clay Center, é preciso considerar, para fazer-se uma conclusão precisa quanto ao Angus e o Red Angus, o que segue: "gado com pele e pêlos escuros concentrados e compridos são menos tolerantes ao calor do que aqueles com pele e pêlos escuros em menos quantidade e curtos, embora ambos têm maior tendência a absorver radiação solar do que as raças com pele e pêlos claros; por outro lado, o gado com pele e pêlos claros concentrados e compridos são menos tolerantes ao calor do que aqueles com pele e pêlos claros em menos quantidade e curtos, apesar de ambos serem menos tolerantes aos raios ultravioletas em virtude da pele mais delicada e mais suscetível a lesões, se comparada com o gado com pele escura". Assim, tanto um quanto o outro possuem, biologicamente, uma condição natural que pode ser afetada pelo calor em demasia.
Com tudo isso, tanto Roberto Gomes da Silva, Keith Gregory e os demais técnicos do Clay Center apontam a quantidade de pêlos nos bovinos como a principal influência na adaptabilidade em regiões quentes. Por isso, deve ser verificado essa característica particular da árvore genealógica de cada animal acima da preferência pessoal do pecuarista pela variação preta ou vermelha. Portanto, deve-se atentar a conceitos concretos que levem a mais e melhor raça independentemente da cor dos animais, como avaliar a performance de cada produto, por exemplo. E nunca se esqueça: tanto os Black quanto os Red, ambos são Angus.